sexta-feira, 28 de maio de 2010

Sei lá



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Caro senhor Ang Lee
Seu filme me fez de novo sentir como é pesado viver.
(Há coisas que nos fazem sentir realmente como é pesado viver.)
Na verdade nem eu sei se isso é um elogio. Vivemos a vida inteira fugindo dessa sensação. Não saberia dizer se é verdadeiro que “às vezes” buscamos senti-la. “Às vezes” a vida é uma dor que viver alivia. Quando sinto todo peso da minha vida, quando escuto o silêncio que é, quando me recordo que, de fato, estou só, procuro o refugio das minhas amizades.
Escrever é um refúgio, caminhar é um refúgio, dirigir é um refúgio, criar é um refúgio, encontrar...
Refúgio é fugir, fugimos de nossa condição, porque viver é intransitivo.
A vida tem sido pra mim como uma experiência mística, uma realização solitária, plena e absoluta. A sensação de plenitude é ao mesmo tempo causa de um estranho vazio, da percepção do vazio que nos cerca, do vazio que nos preenche. A descoberta do eu solitário é um encontro que procuramos evitar. Buscamos amor, para não sentir a vida. Buscamos amizade para compartilhar a dor. Buscamos a companhia de alguém que nos ouça para não ouvirmos o silêncio.
Mas nos dias, nas noites que mergulhamos profundamente dentro de nós mesmos, re-encontramos nossa dura e verdadeira natureza, a solidão.
Por outro lado, é interessante notar que em “nosso” discurso nunca estamos inteiramente sós.