sábado, 28 de maio de 2011

As duas margens do rio


Hoje dia 28 de maio de 2011, acompanhei meus alunos da Faculdade numa feira estudantil; já estive numa destas feiras em outras ocasiões; porém com turmas do ensino médio. Ao que parece a feira era especificamente direcionada aos estudantes secundaristas em final de ciclo, tinha como finalidade servir de guia, de orientação para os alunos na escolha de suas futuras carreiras, bem como das instituições de ensino superior.
Nos últimos anos, ao que parece, a feira deu uma leve guinada a fim de ampliar seu público e introduziu em suas exposições empresas e atividades direcionadas para estudantes que não pretendem necessariamente trilhar o caminho dos cursos universitários; mas, sobre tudo, trilhar desde o final de sua formação no segundo grau uma carreira profissional, particularmente, as carreiras no serviço público.
As palestras deste modo centram-se, principalmente na orientação da escolha de cursos e profissões.
Ou seja, o objetivo da feira consiste em colocar os jovens em contato com instituições, na sua grande maioria particulares, que oferecem este tipo de serviço (cursinhos preparatórios para concursos, e as já tradicionais faculdades e universidades).
Bem, o fato é, a feira não se destina a estudantes universitários, como faz parecer a propaganda em seu site oficial: Publico alvo: O evento é direcionado ao público jovem: estudantes do ensino médio, técnico e superior.[1] (a não ser na parte que diz respeito aos cursos preparatórios para concursos públicos) Ela apresenta na maior parte de seus stands propagandas de instituições privadas tentando atrair novos alunos, ou quem sabe “roubar alguns alunos das concorrentes”; enfim, é uma feira de propaganda (onde algumas instituições podem apresentar para seu público alvo seus “produtos”).
Até aqui sem problemas.
Nosso problema seria o seguinte: que havia “de fato” na feira, que fosse, particularmente, destinado a estudantes universitários? Sem desmerecer nenhuma das palestrar, nem nenhum dos palestrantes, a resposta é simples: NADA.
Evidentemente, assistir uma palestra é sempre enriquecedor; porém, creio que muito mais interessante e enriquecedor para estudantes universitários seja acompanhar palestras que tragam à luz resultados de pesquisas; de trabalhos desenvolvidos em outras instituições; o compartilhamento experiências vivenciadas em escolas (particularmente em nosso caso, curso de pedagogia). Em fim, palestras que tragam a baila tudo que esta sendo produzindo de “novo”, no campo do conhecimento humano, do conhecimento científico.
Ora, mas e quanto à iniciativa dos alunos de se organizarem por si só? E quanto ao desejo claramente desperto de conhecer, de buscar?
Quanto a esta atitude tenho que parabenizar. Parabenizar a aluna Marina pela organização, pela iniciativa, pela demonstração clara, evidente, pelo desejo de proporcionar a si própria e a seus colegas uma oportunidade que, no meu humilde modo de entender a vida universitária, deveria ser favorecido, incentivado e estimulado pela própria faculdade.
Parabenizar todos os alunos que se dispuseram a sair em um sábado e dedicar todo seu dia a aventura da busca por novos conhecimentos, na busca pela ampliação de seus horizontes.
Por outro lado também tenho o que lamentar.
Lamentar e ao mesmo tempo fazer um MEA CULPA. Pela falta de orientação, pela falta de envolvimento nas atividades, nos projetos e nos planos dos alunos. Sim, penso que uma instituição de ensino superior tem o dever de dar respaldo a iniciativas como estas. Aliás, a instituição não pode desamparar os alunos em momento algum, principalmente em momentos como estes em que os alunos demonstram iniciativa, desejo de conhecer. Uma atitude explicitamente proativa.
Contudo, tenho certeza que cada um saberá tirar seu proveito desta experiência.

Na outra margem do rio, gostaria de relatar uma rica experiência que eu e outros poucos alunos tivemos ao visitar o PAVILHÃO DA CULTURA BRASILEIRA (também fizemos uma rápida visita ao MUSEU AFRO BRASILEIRO).
Lá tivemos a oportunidade de fazer uma visita monitorada a algumas amostras. Estavam sendo expostas obras de dois artistas, sendo eles: Ronaldo Fraga, com a exposição: Rio são Francisco: navegado por; e Mônica Nador, com a exposição: COM-PARTI-LHADA , além, é claro, do material do acervo permanente do Pavilhão.
Foi uma experiência enriquecedora, com certeza; os alunos que tiveram a oportunidade de acompanhar o monitor puderam ouvir historias e lendas sobre o Velho Chico e seus habitantes, aliás, seus habitantes (os peixes) e os habitantes de sua margem, as várias comunidades, cidades e vilarejos cortadas, banhadas ou submersos por suas “mágicas águas”.
Tudo isso através da lente, também mágica, do artista plástico e estilista Ronaldo Fraga. Fomos convidados desde o inicio de nossa visita a embarcar no velho Vapor Benjamim Guimarães, construído em 1913, e ainda em operação nas águas do Velho Chico (embora hoje operando somente como embarcação turística). Desde a foz, onde o rio se encontra com o mar até sua nascente; como diz o próprio encarte ao embarcamos passeamos “pelas lendas, religiosidades, cheiros e sabores, musica e pelos costumes das cidades ribeirinhas, entre outros símbolos e características que são únicas ao São Francisco”. O rio se estende por um pedaço tão significativo de nosso país, que cruzá-lo, de uma ponta a outra, nos possibilita entrar em contato com uma parte significativa da diversidade cultural de nossa terra, de nossa gente.
Para alguns alunos, foi um reencontro com as origens. Para outros, foi o encontro com a diversidade cultural que identifica nosso povo; mas que muitas vezes permanece esquecida; outras, desconhecidas da grande maioria de nossos jovens.
Também foi a oportunidade para uma viagem mais profunda, para o interior do universo criativo do autor. Um momento de reflexão pode nos ajudar a perceber que tudo aquilo que vimos e ouvimos, enfim, experienciamos, como dissemos noutra parte, vimos, sentimos e ouvimos através do olhar sensível do artista.
Em O Chico morre no mar – descobrimos que as transformações, as degradações provocadas pelo homem estão transformando a natureza do Velho, diminuindo sua vazão, enfraquecendo sua força, matando sua vida.
Em O gosto que o Chico tem – conhecemos sua diversidade vegetal e animal, descobrimos também que esta diversidade, em função da degradação do rio, começa a declinar, a diminuir...
Conhecemos e descobrimos também as vestes dos antigos caixeiros viajantes, as memórias a devoção; vimos no mapa o traçado do rio, rasgando a terra como uma veia, ou melhor, como uma artéria. Ouvimos as vozes, as vestes, o fuxico. Enfim, fomos submersos nas águas desde sempre sagradas do Velho Chico; foi para os que estavam com seus espíritos dispostos e abertos um batismo. Fato que nos faz relembrar a antiga passagem de Heráclito que dizia: “num mesmo rio não se entra duas vezes”. Neste caso, nos permitimos uma reinterpretação: “do Velho Chico não se sai o mesmo”.

Vale ainda lembrar, para finalizar, a agradável companhia de um pequeno (capetinha), que sabia tudo do rio, das lendas e até de seu povo. Ao que parece sua professora, após uma visita a exposição, inspirada por ela, resolveu realizar atividades envolvendo os conhecimentos que havia adquirido na exposição em sua escola. Experiência que corrobora minhas convicções de que a visitas a museus, exposições artísticas e seus congêneres, enriquece não somente o universo simbólico das professoras e professores, mas, como consequencia de seus alunos também.



Obs.: este texto foi escrito de uma só tacada, de tal modo que não tive tempo de corrigi-lo ou verificá-lo, espero tenham paciência para lê-lo e que lhes possa ser de alguma forma proveitoso.
Msc.
Prof.: Jairo de Sousa Melo


[1] http://www.ciee.org.br/portal/hotsites/feiradoestudante11/estudantes/oevento.asp acesso em 28/5/2011 as 20:15 hs