sábado, 24 de agosto de 2013

Um beijo em duas faces

Como tu bem sabes...
Os olhos são portas, estradas para um sertão...

La, bem no fundo
Da tua boca dissimulas tua língua, delicada, afiada

Ai, ai de mim...

Cada pinta em tua face é uma pista,
Num quadro des-ilusão.

Só...

Quê frieza a tua mão revela?
Onde está teu sangue?
Na cabeça ou no coração?

Teu caminhar só por entre as gentes engana a solidão?
Teu rumo tem destino certo.

Finges-te de Alice, mas sois avessa a loucura.
Temes a perdição...

No fundo da toca te des-cobres.
Do outro lado do espelho tudo se inverte.
Beijas a outra face.

Teus olhos desencontram
Tua boca seca

No fundo tu caminhas triste.


sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Sobre encontros, tequilas e amnésias


Diz a lenda que em algumas pessoas o porre de Tequila causa amnésia.
Certo dia, um casal de amantes marcou um encontro regado a muita, mas muita, Tequila.
Bem, dizem que a arte imita a vida, neste caso, extraordinariamente, sucedeu como na lenda. No dia seguinte, ambos acordaram em suas respectivas casa, porém sem a menor lembrança do que havia lhes ocorrido na noite anterior.
Em função do esquecimento, repetiram seus encontros por um sem-número de vezes...
Os detalhes!
Ah... os detalhes desses encontros...
No íntimo de cada um dos amantes, restava uma vaga lembrança: a sensação intuitiva dos detalhes, dos muitos detalhes...
Mas as circunstâncias da vida são tantas... e, entre encontros e desencontros, perderam-se pelo mundo.
Enfim, os amantes, pseudo casal, tomaram em suas vidas rumos diferentes...
Um foi para o norte o outro para o sul – coisas que acontecem na vida das pessoas.
Apesar de passado muito tempo, sentiam inusitadamente uma imensa vontade de se embriagar; sentiam uma falta, um vazio, sabe-se lá de que...
O fato é que os porres de tequila, agora sós, apenas lhes causavam substanciosas ressacas, tremendas dores de cabeça. No fundo, permanecia aquela mesma sensação de vazio, de ausência.
Depois de muito ponderarem a respeito de suas profundas angustias, sobre a terrível sensação de ausência que lhes oprimia, resolveram novamente se encontrar...
Então, aquele que havia ido para o norte, retornou. Assim como o amante que havia ido para o sul.
O reencontro ocorreu no mesmo horário e no mesmo local em que durante anos se encontravam.
Finalmente voltaram a se encontrar!
Ambos confidenciaram sobre suas profundas angustias; as lancinantes sensações de ausência que sentiram.
Discutiram sobre a hipótese da amnésia provocada pelos porres de tequila e admitiram sua possível factibilidade.
Puseram-se então a recapitular em suas memórias cada passo de seus encontros passados. Cada gesto foi, meticulosamente, retomado pelas parcas memórias de cada um.
De repente, como um grande quebra cabeças, tudo foi se desvelando diante de suas consciências.
O que em princípio parecia uma enorme colcha de retalhos foi se revelando um belo tecido, rico de detalhes. Cada redescoberta era motivo de grande alegria para ambos.
Em dado momento, todo o ritual dos encontros passados havia sido refeito.
Momento que lhes ocorreu a grande iluminação...
Como de súbito, toda aquela sensação de angustia, de vazio, havia sido finalmente preenchida pelos vários fragmentos de uma memória compartilhada e que lhes reconstruiria todo o sentido, que lhes refaria todas os brancos das longas noites de embriagues alone.
Faltava em suas tequilas...
O sal e o limão.


By: Jairo de Sousa Melo