terça-feira, 30 de agosto de 2011

"Viver é muito perigoso" (Parte I)

Comentário à frase do personagem Riobaldo.
(Riobaldo; in Grande Sertão: Veredas - Guimarães Rosa)



Viver é muito perigoso...
Se esta afirmação fosse atribuída à realidade do mundo animal não veríamos, de parte alguma, grandes objeções. Todos, mais ou menos, concordam: a vida no mundo animal é um perigo. É, em certo sentido, um estar exposto.
No mundo animal, os momentos de tranquilidade são alternados, ou melhor, integrados a uma atividade de vigília constante. Para cumprir esta finalidade e preservar ao máximo sua existência, os animais laçam mão de uma série de recursos e artifícios. A agressividade constitui, sobretudo, um dos instrumentos fundamentais para a preservação de sua integridade e sobrevivência.
Porém, o humano, com seus “pactos”, “contratos” e “convenções” ‘parece’ ter criado um mundo de tranquilidade. “O oceano da tranquilidade”. Será? Nesse aparente mundo ou mundo das aparências, supõe-se não existir mais a necessidade de o homem manter a vigília constante, sua agressividade. Nesse mundo, a preservação do indivíduo virou função do Estado. Os mecanismos de camuflagem, de atração e ataque foram supostamente abandonados, e substituídos pelos “instintos” de solidariedade, de fraternidade, ambos característicos da sociedade moderna. Será?
Contudo, essa tranqüilidade, suposta condição de uma humanidade superior e evoluída, constitui, quando muito uma máscara, persona a serviço da hipocrisia , da inautenticidade; promovida por um ideal de homem que nega sua corporeidade em troca de uma crença niilista, já denunciada por outros.
A própria realidade humana, a esfera humana, a antroposfera engendra em muitos momentos disputas tão acirradas quanto àquelas típicas do universo animal. Aliás, somente no mundo humano é que algumas disputas adquirem requintes de crueldade gratuita.
Mas manter a aparência este é o lema. Os homens, as instituições, religiões, entre outros. Tudo parece estar organizado para esta estranha finalidade: manter as aparências. O cinismo, num sentido precário; a hipocrisia, num sentido geral, sustentam essa “aparente tranqüilidade”.
Riobaldo, personagem do romance GRANDE SERTÃO: VEREDAS de Guimarães Rosa, repete continuamente a frase: “viver é muito perigoso”. Ora ele essa frase é expressa como uma questão, ora como uma exclamação. Viver autenticamente é muito difícil; de fato, muito perigoso.
Não obstante, a mentira possa ser um bom tempero para a tranqüilidade.
Homens como Riobaldo, apartados da sociedade em virtude de sua condição marginal, parecem viver, no entanto, para além dos limites daquela tranqüilidade, a beira do precipício, numa condição de exposição verdadeira, derradeira condição humana. Onde viver é, de fato, muito perigoso. No limite das condições humanas o homem aparece sempre mais autêntico. Porém, essa autenticidade cobra um preço, visto que, nessa condição de absoluta precariedade e fragilidade, a vida demonstre estar sempre por um fio. Esse é o preço cobrado: a consciência plena de si, de sua frágil condição de vivente, do seu “estar ai”. Assim, o homem simples expressando-se também de maneira muito simples perscruta o profundo da condição humana, “a morte sempre iminente”.
Nos limites de suas condições, o homem sempre encontra consigo mesmo, e em si mesmo a oportunidade para uma reflexão profunda sobre sua realidade. É na dura vida de jagunço, percorrendo os sertões mais inóspitos, mais secos que ele encontra a oportunidade para maravilhar-se, para espantar-se diante de si e descobrir o homem...

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Minhas musicas preferidas



Eu me perdi na melodia das musicas que ouvi
Como se chamam as coisas do passado que ainda nos falam coisas?
Velhas?
Não seriam velhas as coisas que perderam a capacidade de nos provocar?
De nos comunicar?
De nos dizer algo?
Ou ainda de nos calar


O silencio...

Virei as costas para tudo que não me fala
Tudo que não me cala...
Sou vagabundo,
Sou errante, sou torto


Sou onda vagando por ai,
Acordes dissonantes
Sonho, sono e inconsciência


Nas melodias sou sempre eu; mas do avesso
Do outro lado sou assim, sou outro...
Tudo vem a tona, quando me perco na melodia
Das minhas canções, das minhas musicas preferidas