Meu padrasto, um baiano.
Ainda muito jovem conheceu a dor da perda, a fome e a miséria.
E, como muitos outros nodertinos, fugindo delas embarcou num onibus para São Paulo.
Então, promessa de riqueza e prosperidade.
Alguma chance.
Alguma oportunidade...
Como outros antes e depois dele.
A seduziu.
A esperança de dias melhores ou mormente a fulga do sofrimento, não se sabe.
Porém, Baiano coservou sua essência.
Cultivou-a, viveu-a sempre,
A bem da verdade.
Assim, trazia consigo em seu corpo, em sua alma,
Em seu ente mais profundo uma bahianidade.
Dado a fazer “baianices” boas...
Dia desses, cismou de caçar caranguejos no pequeno mangue,
Do pequeno rio,
Da nossa pequena cidade.
Por sorte ou destino deparou-se com um guaiamum dos grandes.
O bicho era branco e azulzinho, da cor do céu, da cor do mar.
Encantou-se imediatamente;
Engraçou-se verdadeiramente pelo bicho.
Viu nele tanta beleza que decidiu:
_ Bicho desses n'um pode morrer!
Viu nele tanta beleza que decidiu:
_ Bicho desses n'um pode morrer!
Resolveu que iria criar o crustáceo.
Em casa.
Em casa.
Lá no fundo do quintal,
dava todos os dias atenção e alfaces ao danado
que carangueijava por todo o terreiro.
O bicho comia mesmo, comia de se enfartar.
Baiano, em sua singeleza, certo dia ponderou:
O bicho comia mesmo, comia de se enfartar.
Baiano, em sua singeleza, certo dia ponderou:
_ o danado precisa d'um nome!
E, de nome, deu-lhe ‘Guaiamum’.
E, hoje, cá estou eu a ruminar...
Afinal, _ 'é arrimo de família'. Se ria e justificava ele.
Guaiamum, no entanto, não viveu muito;
Guaiamum, no entanto, não viveu muito;
distante que estava de seu habitat natural.
Certo dia, Baiano deparou-se com o bicho morto lá no quintal.
Certo dia, Baiano deparou-se com o bicho morto lá no quintal.
Entristeceu-se verdadeiramente...
Nos cortes ainda rasos de seu semblante percebia-se um pesar profundo...
Nos cortes ainda rasos de seu semblante percebia-se um pesar profundo...
Dava dó até de oiá...
Acabrunhado, enterrou o bicho no pomar
Acabrunhado, enterrou o bicho no pomar
E, pôs-se a ruminar sobre brevidade da vida e a ligeireza da morte...
Baiano um dia enfastiou-se da vida também.
Baiano um dia enfastiou-se da vida também.
E, hoje, cá estou eu a ruminar...