Amanhã, quando amanhecer bem-tarde,
As crianças nascerão velhas
E caminharão pelas ruas em procissão
A frente um cortejo funebre...
Até de olhos fechados poderemos ver, acordar
E, enfim, o mundo como de fato é
O instante é, foi, jaz...
O hoje, um preterito pesado
Assassino a espreita do amanhã
E vamos quase ter, aprender, sobreviver
Quase...
Em meio a moribundos imundos
Aqueles que rejeitam a vida e cultuam a morte
Não haverá mais diálogo possível
Ainda que o silêncio, impossível
Jaz... o tempo, os amigos da inimizade
Dominam, os tolerantes com a intolerância
Uivam
Ode ao ódio, ode ao ódio
Cães! Silenciam pássaros e grilos
Amanhã, até onde a vista alcança só...; impossível avistar os que virão
Não será nem-fim, nem-começo
Só, sonho ruim, um hurro abafado, peito calado.
Sob uma luz amarela e turva,
Um mau presságio,
Na velha
prateleira empoeirada nem-memória,
Sob um punhado de pó o medo
Uma sombra,
E a Terra erma, arrasada...