terça-feira, 10 de dezembro de 2024

FILHAS

Para dizer em voz alta

O que eu gostaria de ter ouvido

Elas me fizeram pai

E, uma vez dito: eu, si, mim... escuto.

Eu grito! Eu causo

Surto...

Elas me refazem

Educador de si,

Psiu..., Silêncio.

De sim, de não.

E digo, e, mim digo. Pai!?

Amor, afeto.

Só ouvir...

Qualquer não, não me corrige

Me traumatiza a civilização

...de mim, tornar mais ou menos humano.

Ser pai, resgata, invoca o meu ser filho, filhas.

Que vez em quando o tom

Do meu equivocado afeto é dor

Onde bastaria um olhar atento

E um gesto, amor...

Mas elas...

Todos os dias me ensinam

Minhas filhas, uma lição

No decorrer duma trilha

Serem filhas de um pai castrado

E atado e castro,

Paradoxalmente não casto

Me indago e sigo

Pai sem nunca ter tido?

Afeto como?

Diz o poeta: a alma humana é um abismo.

E eu lá do fundo, bem no fundo

Será por isso o grito!?

Enfim, ensino o que não aprendo?

Ardendo, ar prendo, só cres sendo, cendido.

Aprendo?

Ensino?

Nasce um, filha? nasce um pai!

Sem pai, sem filha?

Não ouço nem grilo, nem eco

Ai de mim...