sexta-feira, 17 de junho de 2011

Às vezes, à noite, meu braço fica em uma posição que me incomoda [ a doçura de seu rosto me comove], permaneço impassível, não me movo, não o movo. 
Porque me aflige ainda mais a ideia de que você sofrerá com a ausência do meu calor. 

sábado, 28 de maio de 2011

As duas margens do rio


Hoje dia 28 de maio de 2011, acompanhei meus alunos da Faculdade numa feira estudantil; já estive numa destas feiras em outras ocasiões; porém com turmas do ensino médio. Ao que parece a feira era especificamente direcionada aos estudantes secundaristas em final de ciclo, tinha como finalidade servir de guia, de orientação para os alunos na escolha de suas futuras carreiras, bem como das instituições de ensino superior.
Nos últimos anos, ao que parece, a feira deu uma leve guinada a fim de ampliar seu público e introduziu em suas exposições empresas e atividades direcionadas para estudantes que não pretendem necessariamente trilhar o caminho dos cursos universitários; mas, sobre tudo, trilhar desde o final de sua formação no segundo grau uma carreira profissional, particularmente, as carreiras no serviço público.
As palestras deste modo centram-se, principalmente na orientação da escolha de cursos e profissões.
Ou seja, o objetivo da feira consiste em colocar os jovens em contato com instituições, na sua grande maioria particulares, que oferecem este tipo de serviço (cursinhos preparatórios para concursos, e as já tradicionais faculdades e universidades).
Bem, o fato é, a feira não se destina a estudantes universitários, como faz parecer a propaganda em seu site oficial: Publico alvo: O evento é direcionado ao público jovem: estudantes do ensino médio, técnico e superior.[1] (a não ser na parte que diz respeito aos cursos preparatórios para concursos públicos) Ela apresenta na maior parte de seus stands propagandas de instituições privadas tentando atrair novos alunos, ou quem sabe “roubar alguns alunos das concorrentes”; enfim, é uma feira de propaganda (onde algumas instituições podem apresentar para seu público alvo seus “produtos”).
Até aqui sem problemas.
Nosso problema seria o seguinte: que havia “de fato” na feira, que fosse, particularmente, destinado a estudantes universitários? Sem desmerecer nenhuma das palestrar, nem nenhum dos palestrantes, a resposta é simples: NADA.
Evidentemente, assistir uma palestra é sempre enriquecedor; porém, creio que muito mais interessante e enriquecedor para estudantes universitários seja acompanhar palestras que tragam à luz resultados de pesquisas; de trabalhos desenvolvidos em outras instituições; o compartilhamento experiências vivenciadas em escolas (particularmente em nosso caso, curso de pedagogia). Em fim, palestras que tragam a baila tudo que esta sendo produzindo de “novo”, no campo do conhecimento humano, do conhecimento científico.
Ora, mas e quanto à iniciativa dos alunos de se organizarem por si só? E quanto ao desejo claramente desperto de conhecer, de buscar?
Quanto a esta atitude tenho que parabenizar. Parabenizar a aluna Marina pela organização, pela iniciativa, pela demonstração clara, evidente, pelo desejo de proporcionar a si própria e a seus colegas uma oportunidade que, no meu humilde modo de entender a vida universitária, deveria ser favorecido, incentivado e estimulado pela própria faculdade.
Parabenizar todos os alunos que se dispuseram a sair em um sábado e dedicar todo seu dia a aventura da busca por novos conhecimentos, na busca pela ampliação de seus horizontes.
Por outro lado também tenho o que lamentar.
Lamentar e ao mesmo tempo fazer um MEA CULPA. Pela falta de orientação, pela falta de envolvimento nas atividades, nos projetos e nos planos dos alunos. Sim, penso que uma instituição de ensino superior tem o dever de dar respaldo a iniciativas como estas. Aliás, a instituição não pode desamparar os alunos em momento algum, principalmente em momentos como estes em que os alunos demonstram iniciativa, desejo de conhecer. Uma atitude explicitamente proativa.
Contudo, tenho certeza que cada um saberá tirar seu proveito desta experiência.

Na outra margem do rio, gostaria de relatar uma rica experiência que eu e outros poucos alunos tivemos ao visitar o PAVILHÃO DA CULTURA BRASILEIRA (também fizemos uma rápida visita ao MUSEU AFRO BRASILEIRO).
Lá tivemos a oportunidade de fazer uma visita monitorada a algumas amostras. Estavam sendo expostas obras de dois artistas, sendo eles: Ronaldo Fraga, com a exposição: Rio são Francisco: navegado por; e Mônica Nador, com a exposição: COM-PARTI-LHADA , além, é claro, do material do acervo permanente do Pavilhão.
Foi uma experiência enriquecedora, com certeza; os alunos que tiveram a oportunidade de acompanhar o monitor puderam ouvir historias e lendas sobre o Velho Chico e seus habitantes, aliás, seus habitantes (os peixes) e os habitantes de sua margem, as várias comunidades, cidades e vilarejos cortadas, banhadas ou submersos por suas “mágicas águas”.
Tudo isso através da lente, também mágica, do artista plástico e estilista Ronaldo Fraga. Fomos convidados desde o inicio de nossa visita a embarcar no velho Vapor Benjamim Guimarães, construído em 1913, e ainda em operação nas águas do Velho Chico (embora hoje operando somente como embarcação turística). Desde a foz, onde o rio se encontra com o mar até sua nascente; como diz o próprio encarte ao embarcamos passeamos “pelas lendas, religiosidades, cheiros e sabores, musica e pelos costumes das cidades ribeirinhas, entre outros símbolos e características que são únicas ao São Francisco”. O rio se estende por um pedaço tão significativo de nosso país, que cruzá-lo, de uma ponta a outra, nos possibilita entrar em contato com uma parte significativa da diversidade cultural de nossa terra, de nossa gente.
Para alguns alunos, foi um reencontro com as origens. Para outros, foi o encontro com a diversidade cultural que identifica nosso povo; mas que muitas vezes permanece esquecida; outras, desconhecidas da grande maioria de nossos jovens.
Também foi a oportunidade para uma viagem mais profunda, para o interior do universo criativo do autor. Um momento de reflexão pode nos ajudar a perceber que tudo aquilo que vimos e ouvimos, enfim, experienciamos, como dissemos noutra parte, vimos, sentimos e ouvimos através do olhar sensível do artista.
Em O Chico morre no mar – descobrimos que as transformações, as degradações provocadas pelo homem estão transformando a natureza do Velho, diminuindo sua vazão, enfraquecendo sua força, matando sua vida.
Em O gosto que o Chico tem – conhecemos sua diversidade vegetal e animal, descobrimos também que esta diversidade, em função da degradação do rio, começa a declinar, a diminuir...
Conhecemos e descobrimos também as vestes dos antigos caixeiros viajantes, as memórias a devoção; vimos no mapa o traçado do rio, rasgando a terra como uma veia, ou melhor, como uma artéria. Ouvimos as vozes, as vestes, o fuxico. Enfim, fomos submersos nas águas desde sempre sagradas do Velho Chico; foi para os que estavam com seus espíritos dispostos e abertos um batismo. Fato que nos faz relembrar a antiga passagem de Heráclito que dizia: “num mesmo rio não se entra duas vezes”. Neste caso, nos permitimos uma reinterpretação: “do Velho Chico não se sai o mesmo”.

Vale ainda lembrar, para finalizar, a agradável companhia de um pequeno (capetinha), que sabia tudo do rio, das lendas e até de seu povo. Ao que parece sua professora, após uma visita a exposição, inspirada por ela, resolveu realizar atividades envolvendo os conhecimentos que havia adquirido na exposição em sua escola. Experiência que corrobora minhas convicções de que a visitas a museus, exposições artísticas e seus congêneres, enriquece não somente o universo simbólico das professoras e professores, mas, como consequencia de seus alunos também.



Obs.: este texto foi escrito de uma só tacada, de tal modo que não tive tempo de corrigi-lo ou verificá-lo, espero tenham paciência para lê-lo e que lhes possa ser de alguma forma proveitoso.
Msc.
Prof.: Jairo de Sousa Melo


[1] http://www.ciee.org.br/portal/hotsites/feiradoestudante11/estudantes/oevento.asp acesso em 28/5/2011 as 20:15 hs

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Um dia curto demais

As vezes o dia limita a vida.
Não no sentido das vinte e quatro horas serem pouco tempo.
Não me refiro meramente ao tempo; embora, reconheça que o tempo tambem metrifica o dia, e, consequentemente a vida.
Mas estou pensando na energia que muitas vezes nos toma de assalto, faz a vida transbordar ser muito mais, nos dá aquele sensão de totalidade, de unidade, de compartilhamento...
É neste sentido, é a este sentido que me refiro...
Como naqueles dias que acordamos e temos a sensação de saber exatamente como está o mar...
Como estão as ondas, o vento...

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Sei lá



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Caro senhor Ang Lee
Seu filme me fez de novo sentir como é pesado viver.
(Há coisas que nos fazem sentir realmente como é pesado viver.)
Na verdade nem eu sei se isso é um elogio. Vivemos a vida inteira fugindo dessa sensação. Não saberia dizer se é verdadeiro que “às vezes” buscamos senti-la. “Às vezes” a vida é uma dor que viver alivia. Quando sinto todo peso da minha vida, quando escuto o silêncio que é, quando me recordo que, de fato, estou só, procuro o refugio das minhas amizades.
Escrever é um refúgio, caminhar é um refúgio, dirigir é um refúgio, criar é um refúgio, encontrar...
Refúgio é fugir, fugimos de nossa condição, porque viver é intransitivo.
A vida tem sido pra mim como uma experiência mística, uma realização solitária, plena e absoluta. A sensação de plenitude é ao mesmo tempo causa de um estranho vazio, da percepção do vazio que nos cerca, do vazio que nos preenche. A descoberta do eu solitário é um encontro que procuramos evitar. Buscamos amor, para não sentir a vida. Buscamos amizade para compartilhar a dor. Buscamos a companhia de alguém que nos ouça para não ouvirmos o silêncio.
Mas nos dias, nas noites que mergulhamos profundamente dentro de nós mesmos, re-encontramos nossa dura e verdadeira natureza, a solidão.
Por outro lado, é interessante notar que em “nosso” discurso nunca estamos inteiramente sós.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Nunca lutei tanto para salvar a vida de uma pessoa, nunca me senti tão impotente

Combate perdido; mas guerra continua

Já ouviu falar de um homem que resistiu a uma seqüência de 5 enfartos?
Eu já; foi o que aconteceu com meu padastro (pai)
Resistiu o quanto pode, nós lá pedindo a ele que resistisse, não sabíamos, estávamos só prolongando seu sofrimento, já que não viria socorro de lugar algum
Muitos morreram nestas mesmas condições aqui em Mongaguá, e, se nada for feito muitos ainda morrerão...
Não vamos calar
Não vamos parar
Não podemos
Não temos o direito, ainda há seres humanos correndo riscos aqui nos prontos socorros

domingo, 28 de março de 2010

A saúde pede socorro em Mongaguá 2010



Durante muito tempo em minha vida fui um cético, não acreditava em Deus, ou, se acreditava, guardava com essa crença uma relação utilitarista.
Nesta semana tive minha pouca fé testada, meu pai precisou ser socorrido com um enfarto ao pronto socorro central de minha cidade. Começamos aí uma longa caminhada rumo ao conhecimento dos mistérios de Deus, ou do abandono e descaso com a saúde em meu município, uma verdadeira VIA CRUCIS.
Desde o início foi SÓ mau atendimento e descaso por parte dos médicos. Em alguns momentos cheguei mesmo a duvidar da qualificação técnica de alguns deles, haja vista, tamanha incompetência da parte de alguns deles.
No primeiro atendimento a médica sequer se levantou de sua cadeira para auscultar o coração de meu pai, apesar de sua reclamação de dor no peito, somente com muita insistência de nossa parte a mesma autorizou que fosse feito um eletro cardiograma. Eu, apesar de ser completamente leigo, notei algo de estranho no eletro; porém, como não tenho nenhuma formação para afirmar algo sobre o exame, procurei entregar à doutora para que ela fizesse a leitura do mesmo, uma leitura supostamente técnica. Ao receber o eletro em suas mãos a “Drª” olhou com um ar de superioridade o pequeno pedaço de papel e afirmou categoricamente não haver nada de errado, que bastava que ele fosse medicado e dispensado (noutras palaras, tomasse um soro), afinal tratava-se de um leve mal estar.
Durante a semana, meu pai, mais uma vez com dores no peito, foi a um ambulatório local, Vila Operaria, e lá foi tratado com o mesmo descaso pelo médico “Dr House” (força de expressão, embora seja bem provável que ele de fato se sentisse como tal), que, provavelmente tirou seu diploma num terreiro de macumba, já que sem sequer tocar no paciente que reclamava de dor no peito diagnosticou uma “verminose” e solicitou um exame de fezes. Repito mais uma vez, ele sequer considerou os reclamos do paciente se queixava de dor no peito. Pergunto-me, que tipo de procedimento clínico ele teria usado para concluir tal absurdo? E, ainda num lance de absurda ARROGANCIA e prepotência, quando solicitado por minha mãe uma guia, um encaminhamento, para um cardiologista, respondeu QUE O MÉDICO ALI ERA ELE E QUE ELA, UMA IGNORANTE, NADA SABIA PARA FAZER TAL TIPO DE SOLICITAÇÃO.
E ainda não acabou, nesta ultima sexta-feira 26 de março, meu pai teve que ser mais uma vez socorrido ao “famigerado” pronto socorro central de Mongaguá, onde sequer existe uma Unidade de Tratamento Intensivo, a famosa UTI, imaginem um pronto socorro que não possui um pronto socorro.
Pois foi nesse ambiente de preparação para as passagens, de preparação para a morte, que meu pai lutou uma das batalhas que, se não foi (pois ainda me resta uma centelha de fé em sua recuperação) será uma das mais difíceis dias de toda sua vida.
24 horas de sofrimento profundo. Até então, em minha vida, nunca tinha o visto tão indefeso, tão fragilizado, ele parecia pressentir a morte rondando seu leito, chegou a declarar em algum momento para minha esposa que não retornaria para casa.
Lembram-se daquele eletrocardiograma feito por meu pai no sábado dia 21/03/2010, pois é, ele foi levado na última sexta feira a outro médico, de uma clinica particular, que ao ter em mão o exame identificou de imediato um caso de enfarto, ou seja, meu pai estava enfartado desde o dia 21, o mesmo eletro foi levado ao hospital de Itanhaém, neste domingo dia 28/03/2010, e o médico mais uma vez foi categórico em afirmar que ele já estava enfartado desde o dia em que havia sido realizado o eletrocardiograma. Detalhe, o mesmo que a médica do pronto-socorro havia afirmado estar normal.
A posição fetal; é interessante que esta posição revele a verdadeira condição do homem, a de absoluta fragilidade, de absoluto desamparo diante do desconhecido que é a morte ou a vida. Revela também, em algumas ocasiões o nível de sofrimento a que uma pessoa esta submetida. Pois foi assim que vi meu pai, um baiano forte e lutador, que até esse momento era ainda meu “padastro”.
Foi ali que reconheci meu pai, e, por incrível que pareça foi também passando por esta situação que ele me reconheceu filho.
Como diz o ditado, antes tarde do que nunca.
Que nos resta agora? Resta-nos esperar.
Ah, também nos resta esperar que mais nenhum ser humano caia nas mãos do sistema de saúde de Mongaguá assim como ele está.
Está sucateado, está abandonado, foi esquecido pelo poder público, foi esquecido pelo prefeito (dizem por ai que ele ainda não assumiu seu mandato), certamente nenhum de seus entes queridos depende desse sistema.
Foi esquecido pelos vereadores, que esqueceram sua função pública de cobrar e vigiar o executivo, de representar a sociedade, a população, sabe-se lá se estão vendidos, se foram corrompidos, talvez não pelo dinheiro, mas quem sabe pelo poder.

QUANTO A MEU PAI, ESPERAMOS EM DEUS

JÁ A SAÚDE EM MOGAGUÁ ESTA COMO ELE, NA UTI

Jairo de Sousa Melo