ou sobre igrejas, botecos e farmácias (parte I)
Três coisas principalmente se proliferam nas pequenas
cidades e entorno das grandes cidades como sinal da doença e da decadência
espiritual de um povo. São elas as “igrejas”, os “botecos” e as “farmácias”.
Para comprovar a decadência que aqui denuncio não é
necessário postular uma tese, exercício de um intelectual, ou ainda, que seja
posto em pratica uma investigação científica por algum catedrático; basta que
um indivíduo qualquer, dotado minimamente de razão ou discernimento observe e
analise com atenção o que acontece nas periferias e mesmo nas ruelas das
grandes e pequenas cidades do nosso país.
Enquanto a Europa e todos os países desenvolvidos cada vez
mais abandonam as crenças, superstições e religiões, nosso país, ao contrário,
parece cada vez mais se aprofundar nas trevas das religiosidades, cultos e
superstições que ainda hoje fazem ecoar os resquícios sombrios de um mundo
medieval.
Parece que vivemos aqui um retrocesso.
Desde o século XVIII, se não antes para alguns países, a
maior parte das nações ocidentais realizou um divórcio, que ‘parecia’
definitivo, entre Igreja e Estado. Todas essas conquistas estão agora sendo
postas em risco na América Latina, e particularmente no Brasil.
Isto porque, entre outras coisas, as transformações sociais
e econômicas apenas nos trouxeram a ilusão capitalista do sucesso pelo
trabalho. O que é certo é que a divisão social e econômica em nosso país criou
um abismo que, mesmo hoje com todas as mudanças, ainda é intransponível.
A evidência dessa condição gera desalento e falta de
esperança no futuro. O desalento, a falta de esperança na melhoria das condições
de vida torna-se o combustível para as crendices, superstições e
religiosidades. Pois o que resta a um homem que não consegue ver saída para sua
miserabilidade, para suas frustrações, problemas, e doenças, senão a conversão
numa crença da salvação da alma. Ora se tudo aqui parece estar perdido, pensa o
sujeito, porque não investir no que supostamente ainda me resta? A alma! Este
sujeito acaba se tornando um alvo fácil para os “agiotas da salvação”. E
assim avança e se ramifica nas periferias das grandes e pequenas cidades um sem
numero de igrejas e casa de orações entre outros espaços para o culto da
superstição e da devoção.
O homem perdido e sem esperança na vida cultua a esperança
de uma outra vida, uma crença no além. Nega e renega seu direito de luta, de
subversão da sociedade. Nega e renega sua existência positiva em favor de uma
existência negativa, de uma existência no além. Desse modo, se aliena e se
torna ainda mais um instrumento da escravidão econômica, visto que não fará
frente, não se oporá a exploração promovida pelo sistema, haja vista todas as
suas fichas estarem depositadas “num além vida”.
(...)
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