Que
importância tem a arte para o ser humano?
Os
românticos ingleses e alemães propuseram o conceito de autonomia da arte, ou
seja, expressão livre da experiência humana, de acordo com os critérios de criatividade
e originalidade. Essas ideias de originalidade e autonomia serviram de
referência a gerações posteriores no questionamento da censura e de imposições
de interesses alheios à experiência estética. Cabe observar que esse conceito
de autonomia – na filosofia da arte – vale tanto para o processo de produção
quanto de apreciação (crítica) da obra de arte; e que, para ser livre,
independente, a arte não poderia ficar associada a critérios absolutos, a
princípios pré-estabelecidos.
Posto
isso, percebe-se que a arte possibilita o registro histórico das paixões
humanas, do teísmo ou do ateísmo, das relações entre o ser humano e a natureza,
das várias facetas da organização social, etc. Ou seja, a consideração estética
- que consiste na atitude de contemplar o objeto (sua aparência) que, por sua
vez, estimula a capacidade de concepção, apreensão; de modo que não se trata de
mera percepção sensorial e sim de pensamento - possibilita um conhecimento
sobre a experiência humana por intermédio do discurso que expressa o sentido
humano da obra de arte.
A despeito
da pretensão romântica, a arte já serviu de instrumento de manutenção do poder
totalitário, por isso, já esteve bastante limitada. E esse é um indício da
estreita ligação que há entre arte, sociedade e relações de poder.
As
relações de poder no trabalho, na família, entre etnias, gêneros, etc., não
raro encontram suporte no Estado para determinar a “realidade” para o
indivíduo, que a assume sem questionar. Considerando que a produção artística é
afetada pelas relações sociais e pela tecnologia, que contribui com os
processos de produção e difusão da obra de arte, a arte pode, então, reproduzir
– e assim reforçar – a visão de mundo, sob a tutela do poder político, do
indivíduo, conforme esteja habituado a perceber por intermédio da “arte”
consumida.
Mas,
a arte também pode questionar o poder político que gera injustiça, fazendo
valer – aparentemente – sua liberdade de expressão. A questão é que a arte –
engajada - como um instrumento político revolucionário assume uma função que
também limita a pretendida autonomia, por maior que seja o valor estético de
sua produção, pois se torna também servil ao ficar atrelada a critérios alheios
ao processo artístico.
Considerando
a expressão “valor estético”, não sem esforço e concentração se percebe o quão descartável
é a produção artística enquanto mercadoria, a serviço do lucro; quão sem
sentido se torna, assim, outra vez, o conceito de autonomia. De forma
conveniente os capitalistas inverteram o valor da atitude estética na relação
entre arte e ócio na sociedade do consumo, da moda do efêmero. A experiência
estética que se vende não estimula a capacidade de pensar e de conceber, pelo
contrário, entorpece, aliena o público adestrado para panis et circencis.
A
arte possibilita o exercício da humanidade. Na experiência estética o ser
humano pode questionar essa sua condição humana ao pensar e sentir, estimulado
pela apreciação da obra de arte. Basta dedicar um pouco de esforço e
concentração para perceber a beleza por intermédio da atitude estética, que é o
modo como se dá a relação entre o ato de apreensão e o objeto apreendido. Um
aspecto que torna a atitude estética pouco popular é que interessa apenas a
aparência momentânea das coisas e não as próprias coisas (realidade) – e suas
funções – ou os sentimentos relacionados a essas coisas. Daí a ideia de que “a
beleza é inútil, o que não quer dizer que não seja imprescindível.” (BARROS, M.
B. “Da estética à filosofia da arte”) A experiência humana se torna edificante,
enriquecedora, quando em contato com o belo, com seus “tesouros inestimáveis de
beleza e sentido”. (BARROS, M. B. “Arte e Filosofia da arte no mundo
contemporâneo”)