Boa tarde
(noite) a todos!
Senhores pais, mães, alunos, colegas de trabalho, inspetores, equipe da
limpeza, da alimentação, equipe gestora, senhor administrador.
Pediram-me...
Aliás, corrigindo, foi-me recomendado que fosse econômico no discurso.
– Embora eu seja um outsider vou procurar manter o protocolo e seguir a
recomendação, afinal, dizem que é bom ser prudente em tempos de crise. (rs)
Bem, neste sentido, gostaria primeiramente de dizer da minha satisfação.
Gostaria de dizer que me sinto extremamente honrado pelo convite para ser
paraninfo dessa turma. No fundo sou uma pessoa muito simples e, como todo
professor, qualquer pequeno gesto de reconhecimento é suficiente para me
emocionar e me fazer sentir orgulho pelo meu trabalho.
Professores são pessoas simples!
Agradeço aos alunos do 3º A, por terem me concedido essa honra.
Obrigado!
Gostaria de começar meu breve discurso lembrando duas provocações
nietzcheneanas sobre o que o verdadeiro filósofo espera de seus discípulos:
1º
“O homem do conhecimento não precisa somente amar seus inimigos,
precisa também odiar seus amigos.”
Ou seja, é preciso seguir de perto o que dizem aqueles com quem não
concordamos, mas sobre tudo, é preciso exercitar a discordância com nossos
amigos para que não sejamos doutrinados pela força da amizade, nem cúmplices do
erro. Isto porque, com relativa facilidade denunciamos os erros em nossos
inimigos; porém, é preciso ter muito caráter para denunciar os erros em nossos
amigos – caráter, eis uma palavra cara em nossos dias!
2º
“Paga-se mal a um mestre, quando se continua sempre aluno.”
Por isso recomendo, tomem as rédeas de suas vidas e formação, não
esperem a partir de agora que seus país ou professores lhes digam o que vocês “devem”
fazer.
Isto dito...
Outro dia numa aula sobre noções de economia política na sala do 3ºB,
fui concitado pelos meus alunos a fazer uma aula especifica de introdução à
economia – lamentavelmente, em função da correria do fim do ano, não tivemos
esta aula.
Hoje então farei a leitura desse pequeno livro sobre o capital no
século XXI... Estou brincando....(embora tenha trazido comigo este exemplar no
meu novo livro de cabeceira O Capital no século XXI, do Piketty – recomendo a
leitura!!).
Bom, na verdade gostaria de perguntar o que afinal a sociedade espera de
vocês formandos?
Sucesso!?...
O que se entende com a palavra sucesso?...
Eu não gosto da palavra sucesso, sobretudo, porque o antônimo, o
contrário da palavra sucesso é fracasso; mas parece que esta palavra está na moda
hoje em dia...
Os “gurus” da auto ajuda gostam da palavra sucesso.
Os “gurus” do business gostam da palavra sucesso.
Mas a maneira como esta palavra é interpretada pelo senso comum nos
leva a crer que muitas das pessoas que admiramos, respeitamos e veneramos
durante muito tempo, não são ou foram pessoas de sucesso.
(Os professores, por exemplo, não são considerados modelos de sucesso
em nossa sociedade, não são exemplos a serem seguidos).
Mas...
Vejamos o caso de Sócrates.
Um sujeito que fez da sua vida uma incansável busca pelo conhecimento,
pela verdade e pela justiça, dava aulas nas ruas e praças públicas a quem quer
que desejasse aprender, não ganhava nenhum centavo por isso. Mesmo assim
arrumou muitos inimigos, foi perseguido, preso e condenado a morte por seus
compatriotas.
Fracasso???
Vejamos o caso de Jesus.
Um sujeito que até onde se sabe não possuía bens, tinha uma profissão
humilde, era carpinteiro, segundo dizem; dividia o pouco que tinha com os
outros; e dizia que amor era a coisa mais importante do mundo; foi perseguido
por seus compatriotas e entregue aos romanos para ser morto.
Fracasso???
Vejamos o caso de Gandhi.
Um sujeito que andava com as roupas de algodão que ele mesmo fiava,
quase não possuía bens, e se os possuía não os ostentava, pregava e praticava a
não violência, mesmo assim foi assassinado por um compatriota seu.
Fracasso???
Se as pessoas aqui presentes não conhecessem a historia destes grandes homens
certamente tenderiam a acreditar, conforme a moda, que estas são historias de
fracasso.
Que dizer então da família?
De uma mãe, de um pai que possui uma profissão humilde, como a de
operário da indústria, ganha pouco e o pouco que ganha investe não em si, não
em bens e ostentação, mas na formação dos filhos; e, somente com muito esforço
e sacrifício consegue levar essa empreitada adiante.
Fracasso???
Eu tendo a crer que se um desses gurus dos negócios observasse
isoladamente a vida de alguns desses pais, dessas mães certamente diriam que
eles também não obtiveram sucesso em suas vidas pessoais.
Vejamos agora alguns dos casos de sucesso festejados e enaltecidos pelos
ditos gurus dos negócios:
Em meados do século XIX, Irineu Evagenlista de Sousa, também conhecido
como o Barão de Mauá, levantou uma relativa fortuna “contrabandeando” escravos
negros da África para a América Latina. Muitos destas pessoas eram sequestradas
e vendidas como escravos no “mercado” ilegal, uma vez que o trafico negreiro já
havia sido proibido pela coroa com a Lei Eusébio de Queirós, de 1850.
Alguns estudantes de administração chamaram este episódio do mundo dos negócios
de um “case de sucesso.”
Em 1997, o economista Armínio fraga, comandou uma ataque especulativo
contra a economia da Tailândia que rendeu a ele e ao seu sócio George Soros
lucros da ordem de mais de 2 bilhões. Este golpe na frágil economia da
Tailândia quase levou o país a falência quebrando centenas de empresas e ao
desemprego milhares de pessoas.
Alguns estudantes de economia chamam este episodio de um “case de
sucesso.”
Eis porque não gosto da palavra da moda “sucesso”.
Daí que prefiro a palavra realização.
Um homem que realiza coisas tem do que se orgulhar.
Neste sentido, lutar incansavelmente pela verdade e pela justiça ainda
que com isso não se obtenha dinheiro e bens,
é sim realizar coisas!
Lutar pela justiça e pelo amor, ainda que com isso você seja traído e
injustiçado,
é sim realizar coisas!
Lutar pela liberdade e pela paz, ainda que com isso você seja preso e
maltratado,
é sim realizar coisas!
Do mesmo modo, dar uma formação digna aos seus filhos, ainda que para
isso se tenha que sacrificar nosso tempo, e tantas outras coisas, é sim
realizar coisas!
É desta maneira meus alunos, que respondo o que se espera de vocês que
hoje encerram uma etapa importante de suas formações.
Espero que tenha uma vida plena de realizações, uma vida que traga
orgulho não só para vocês mesmos; mas que traga orgulho a todos que os cercam,
principalmente às suas famílias, uma vez que não podemos esperar muito reconhecimento
dos outros, como pudemos observar.
Lembrando que nenhum daqueles homens honrados aos quais me referi tinham
a pretensão de serem lembrados por toda a eternidade, apenas buscaram ter uma
vida digna e honrada e assim realizaram suas vidas da melhor maneira possível.
Portanto, finalizo recomendado e desejando a vocês que Realizem uma boa
vida!
Meus parabéns a todos.
Demóstenes de Mongaguá...
ResponderExcluirAinda chego lá....rsrsrs
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