Filosofia... Ensaios, poesias, crônicas, criticas e reflexões filosóficas sobre o humano, a natureza, a ciência, a politica, a arte e a cultura em geral.
terça-feira, 1 de outubro de 2013
sábado, 24 de agosto de 2013
Um beijo em duas faces
Como tu bem sabes...
Os olhos são portas, estradas para um sertão...
La, bem no fundo
Da tua boca dissimulas tua língua, delicada, afiada
Ai, ai de mim...
Cada pinta em tua face é uma pista,
Num quadro des-ilusão.
Só...
Onde está teu sangue?
Na cabeça ou no coração?
Teu caminhar só por entre as gentes engana a solidão?
Teu rumo tem destino certo.
Finges-te de Alice, mas sois avessa a loucura.
Temes a perdição...
No fundo da toca te des-cobres.
Do outro lado do espelho tudo se inverte.
Beijas a outra face.
Teus olhos desencontram
Tua boca seca
No fundo tu caminhas triste.
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Sobre encontros, tequilas e amnésias
Diz a lenda que em algumas pessoas o porre de Tequila causa
amnésia.
Certo dia, um casal de amantes marcou um encontro regado a
muita, mas muita, Tequila.
Bem, dizem que a arte imita a vida, neste caso, extraordinariamente, sucedeu como na lenda. No dia seguinte, ambos acordaram em suas respectivas
casa, porém sem a menor lembrança do que havia lhes ocorrido na noite anterior.
Em função do esquecimento, repetiram seus encontros por um
sem-número de vezes...
Os detalhes!
Ah... os detalhes desses encontros...
No íntimo de cada um dos amantes, restava uma vaga lembrança: a sensação intuitiva dos detalhes, dos muitos detalhes...
Ah... os detalhes desses encontros...
No íntimo de cada um dos amantes, restava uma vaga lembrança: a sensação intuitiva dos detalhes, dos muitos detalhes...

Enfim, os amantes, pseudo casal, tomaram em suas vidas rumos
diferentes...
Um foi para o norte o outro para o sul – coisas que
acontecem na vida das pessoas.
Apesar de passado muito tempo, sentiam inusitadamente uma
imensa vontade de se embriagar; sentiam uma falta, um vazio, sabe-se lá de
que...
O fato é que os porres de tequila, agora sós, apenas lhes causavam substanciosas ressacas, tremendas dores de cabeça. No fundo, permanecia aquela mesma sensação de vazio, de ausência.
O fato é que os porres de tequila, agora sós, apenas lhes causavam substanciosas ressacas, tremendas dores de cabeça. No fundo, permanecia aquela mesma sensação de vazio, de ausência.
Depois de muito ponderarem a respeito de suas profundas angustias,
sobre a terrível sensação de ausência que lhes oprimia, resolveram novamente se
encontrar...
Então, aquele que havia ido para o norte, retornou. Assim como
o amante que havia ido para o sul.
O reencontro ocorreu no mesmo horário e no mesmo local em
que durante anos se encontravam.
Finalmente voltaram a se encontrar!
Ambos confidenciaram sobre suas profundas angustias; as lancinantes
sensações de ausência que sentiram.
Discutiram sobre a hipótese da amnésia provocada pelos
porres de tequila e admitiram sua possível factibilidade.
Puseram-se então a recapitular em suas memórias cada passo de seus encontros passados. Cada gesto foi, meticulosamente, retomado pelas parcas memórias de cada um.
Puseram-se então a recapitular em suas memórias cada passo de seus encontros passados. Cada gesto foi, meticulosamente, retomado pelas parcas memórias de cada um.
De repente, como um grande quebra cabeças, tudo foi se
desvelando diante de suas consciências.
O que em princípio parecia uma enorme colcha de retalhos foi
se revelando um belo tecido, rico de detalhes. Cada redescoberta era motivo de
grande alegria para ambos.
Em dado momento, todo o ritual dos encontros passados havia
sido refeito.
Momento que lhes ocorreu a grande iluminação...
Como de súbito, toda aquela sensação de angustia, de vazio, havia sido finalmente preenchida pelos vários fragmentos de uma memória compartilhada e que lhes reconstruiria todo o sentido, que lhes refaria todas os brancos das longas noites de embriagues alone.
Como de súbito, toda aquela sensação de angustia, de vazio, havia sido finalmente preenchida pelos vários fragmentos de uma memória compartilhada e que lhes reconstruiria todo o sentido, que lhes refaria todas os brancos das longas noites de embriagues alone.
Faltava em suas tequilas...
O sal e o limão.
By: Jairo de Sousa Melo
segunda-feira, 22 de julho de 2013
Popper e o caráter hipotético do conhecimento científico
Popper e o caráter hipotético do conhecimento científico
“Acredito que valeria a pena
tentar aprender algo sobre o mundo, mesmo que, ao fazé-lo, descobríssemos
apenas que não sabemos muita coisa. Esse estado de ignorância conhecida poderia
ajudar-nos, em muitas das nossas dificuldades. Vale a pena lembrar que, embora
haja uma vasta diferença entre nós no que respeita aos fragmentos que
conhecemos, somos todos iguais no infinito da nossa ignorância.”[1]
Karl Popper
Além de
oferecer mais conhecimento sobre a realidade, a ciência tem propiciado o
desenvolvimento tecnológico e a produção de equipamentos que facilitam o modo
de vida humano. Isso porque corresponde à vontade humana de saber cada vez mais
sobre o mundo. Sendo assim, ciência sempre existiu. Mas, sua definição e
consequente modo de produção de conhecimento passaram por muitas variações.
Diante da
diversidade de teorias, aquela que é aceita costuma apresentar vantagens sobre
as demais concorrentes. O problema então é: qual teoria científica deve ser escolhida?
Como escolher?
Karl Popper
apresentou um critério de definição de ciência, uma teoria da pesquisa
científica que viabiliza a escolha de um método; tal escolha remete ao critério
de demarcação, ou seja, à possibilidade de se examinar a falseabilidade dos
enunciados por meio de regras. Desse modo, um “cientista genuíno” deve ser
antidogmático, pois, (...) “na busca
da realidade, talvez seja melhor começar pela crítica das crenças mais
enraizadas.” [2]
O critério que define ciência então é: a teoria
científica deve ser passível de refutação; “para ser científica, uma
teoria precisa ser criticável ou falsificável empiricamente – isto é, precisa
ser uma teoria que possa ter sua falsidade atestada por evidências, testes
empíricos (...), se um enunciado não for logicamente falsificável dessa
maneira, não poderá ser considerado científico.”[3] Portanto,
ciência não é sinônimo de certeza, o conhecimento científico pode e deve ser
submetido a refutações por ser hipotético.
Convém
observar que uma teoria não perde o estatuto de científica após ser refutada,
por mais que pareça absurdo um enunciado - tendo sua falsidade constatada - ser
considerado científico. O mesmo não ocorre no caso da tautologia, ou de
enunciados que não podem ser testados. A verdade ou falsidade da teoria é menos
importante do que a possibilidade de ser testada e refutada. Dessa maneira,
Popper condena a visão positivista do conhecimento científico. Não há verdade
absoluta, não há certeza na ciência, tudo pode ser refutado.
Mas, a forma
lógica do enunciado não garante que seja refutável, pois, pode ser que nunca
seja testado e, com isso, mantido. Muita vez o pesquisador protege sua teoria
com unhas e dentes, utilizando estratagemas diversos, por exemplo, apresentando
uma proposição ad hoc a uma refutação
possível. No entanto, reiterando o critério popperiano, para preservar o
estatuto de ciência – e evitar a postura positivista com “a ideia de que a
verdade está situada além da autoridade humana”[4] –
a teoria deve manter sua condição de refutável.
A fórmula da
pesquisa científica compreende, então, dos seguintes passos: a um problema
abordado (1), uma solução hipotética é apresentada (2); e, para que seja válida
– provisoriamente – essa solução é submetida a testes constantes (3). Se tal
solução não passar em algum teste, outra hipótese é apresentada.
Por exemplo, o
modelo descritivo do sistema solar, da União Astronômica Internacional (UAI), considerou Plutão como sendo o
nono planeta, desde que foi descoberto, em 1930. Hipótese que prevaleceu
até 1996, quando houve uma redefinição do termo “planeta”, por conta de
inúmeros objetos descobertos em observações, e Plutão passou, então, a ser
tratado com um planeta anão, em virtude de suas características. Embora essa
decisão seja aceita pela comunidade científica, há pesquisadores que pretendem
encontrar evidências que permitam manter o estatuto de Plutão como planeta, o
que é possível, considerando essa visão de ciência de Popper.
O
desenvolvimento da ciência resultaria do processo de tentativa e erro; hipóteses
são propostas como solução de um problema e, após serem refutadas, são
substituídas por novas e melhores hipóteses, mais resistentes aos testes. “O
critério de falsificabilidade foi originalmente preconizado como um definidor
de ciência que, paralelamente, definiria também um modelo de escolha entre
teorias.”[5] O
método de definição de ciência e de escolha de teorias não se restringe ao
universo da pesquisa, conforme sugere Popper no belíssimo texto : “As origens do conhecimento e da ignorância.”, é abrangente a todas as situações da vida humana, nas relações
sociais, na política. Implica numa atitude mais humilde - e crítica - de abrir
mão de convicções diante de argumentos melhores.
quinta-feira, 27 de junho de 2013
Conduta
moral e sociedade
A conduta moral implica em
compromisso com obrigações estabelecidas socialmente. Não as obrigações legais,
pois a moral regula muitas práticas que não são tratadas pelas leis ordinárias,
mas as obrigações que dependem das relações sociais (na dimensão moral) como
referência para definir quais são os interesses individuais aceitáveis.
As relações morais resultam
da junção de exigências morais, expectativas morais, sentimentos morais e
atitudes morais que, combinadas, caracterizam a conduta moral.
Faz parte da vida moral o
“direito” de condenação moral, que ocorre quando há descumprimento de
convenções sociais que determinam o que é conduta condenável; conduta
condenável, vista como proibida, implica em ameaça de punição. A ameaça de
punição é uma necessidade para se evitar a conduta moralmente errada, que é
interessante – atraente ao infrator – por resultar em algum benefício
individual. Paradoxalmente, a prática do mal é um bem para o indivíduo, pois é
desejável, do contrário, se fosse “algo sem nenhuma qualidade desejável,
ninguém iria querer fazê-lo”.
A conduta moral recomendável
é instituída por convenção e guarda estreita relação com o “contrato” firmado
pelos indivíduos na formação da sociedade política. O conhecimento da conduta
moral implica na percepção das atitudes morais e das exigências morais. A
exigência de consideração, que enseja as atitudes morais, compreende as
crenças: no direito de ser respeitado, de que quem é punido deve entender sua
punição por desrespeito e de que as atitudes e os sentimentos morais
possibilitam ajustar a conduta moral. A legitimidade da exigência moral depende
da legitimidade do direito, cujo é estabelecido discursivamente, conforme a
ideia de “sentença performativa”, de Austin, pois, dizer que um indivíduo tem o
direito à exigência moral é o mesmo que descrever uma realidade produzida pelo
discurso. Portanto, o fundamento da exigência moral é um acordo de aceitação de
direitos e deveres morais.
A exigência moral tem o
objetivo prático de contribuir à organização da sociedade, à convivência
pacífica e harmoniosa ao estipular parâmetros de conduta moral. Cabe salientar
que a avaliação da conduta moral varia conforme a relação que há entre quem
avalia e quem é avaliado. Mas, o importante é que a culpa implica em
responsabilização do agente moral, tendo em vista a alteração de seu
comportamento ou mentalidade no futuro; e, para ter o efeito esperado, a ameaça
de punição deve ser acompanhada de punição efetiva quando necessário.
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Que
importância tem a arte para o ser humano?
Os
românticos ingleses e alemães propuseram o conceito de autonomia da arte, ou
seja, expressão livre da experiência humana, de acordo com os critérios de criatividade
e originalidade. Essas ideias de originalidade e autonomia serviram de
referência a gerações posteriores no questionamento da censura e de imposições
de interesses alheios à experiência estética. Cabe observar que esse conceito
de autonomia – na filosofia da arte – vale tanto para o processo de produção
quanto de apreciação (crítica) da obra de arte; e que, para ser livre,
independente, a arte não poderia ficar associada a critérios absolutos, a
princípios pré-estabelecidos.
Posto
isso, percebe-se que a arte possibilita o registro histórico das paixões
humanas, do teísmo ou do ateísmo, das relações entre o ser humano e a natureza,
das várias facetas da organização social, etc. Ou seja, a consideração estética
- que consiste na atitude de contemplar o objeto (sua aparência) que, por sua
vez, estimula a capacidade de concepção, apreensão; de modo que não se trata de
mera percepção sensorial e sim de pensamento - possibilita um conhecimento
sobre a experiência humana por intermédio do discurso que expressa o sentido
humano da obra de arte.
A despeito
da pretensão romântica, a arte já serviu de instrumento de manutenção do poder
totalitário, por isso, já esteve bastante limitada. E esse é um indício da
estreita ligação que há entre arte, sociedade e relações de poder.
As
relações de poder no trabalho, na família, entre etnias, gêneros, etc., não
raro encontram suporte no Estado para determinar a “realidade” para o
indivíduo, que a assume sem questionar. Considerando que a produção artística é
afetada pelas relações sociais e pela tecnologia, que contribui com os
processos de produção e difusão da obra de arte, a arte pode, então, reproduzir
– e assim reforçar – a visão de mundo, sob a tutela do poder político, do
indivíduo, conforme esteja habituado a perceber por intermédio da “arte”
consumida.
Mas,
a arte também pode questionar o poder político que gera injustiça, fazendo
valer – aparentemente – sua liberdade de expressão. A questão é que a arte –
engajada - como um instrumento político revolucionário assume uma função que
também limita a pretendida autonomia, por maior que seja o valor estético de
sua produção, pois se torna também servil ao ficar atrelada a critérios alheios
ao processo artístico.
Considerando
a expressão “valor estético”, não sem esforço e concentração se percebe o quão descartável
é a produção artística enquanto mercadoria, a serviço do lucro; quão sem
sentido se torna, assim, outra vez, o conceito de autonomia. De forma
conveniente os capitalistas inverteram o valor da atitude estética na relação
entre arte e ócio na sociedade do consumo, da moda do efêmero. A experiência
estética que se vende não estimula a capacidade de pensar e de conceber, pelo
contrário, entorpece, aliena o público adestrado para panis et circencis.
A
arte possibilita o exercício da humanidade. Na experiência estética o ser
humano pode questionar essa sua condição humana ao pensar e sentir, estimulado
pela apreciação da obra de arte. Basta dedicar um pouco de esforço e
concentração para perceber a beleza por intermédio da atitude estética, que é o
modo como se dá a relação entre o ato de apreensão e o objeto apreendido. Um
aspecto que torna a atitude estética pouco popular é que interessa apenas a
aparência momentânea das coisas e não as próprias coisas (realidade) – e suas
funções – ou os sentimentos relacionados a essas coisas. Daí a ideia de que “a
beleza é inútil, o que não quer dizer que não seja imprescindível.” (BARROS, M.
B. “Da estética à filosofia da arte”) A experiência humana se torna edificante,
enriquecedora, quando em contato com o belo, com seus “tesouros inestimáveis de
beleza e sentido”. (BARROS, M. B. “Arte e Filosofia da arte no mundo
contemporâneo”)
Ética: conhecimento e ação boa
Questões
próprias ao estudo da ética – por exemplo, da relação entre consciência e
responsabilidade - já apareceram nos textos do teatro clássico, mas, o
tratamento teórico desse campo de estudo da filosofia teve início nos diálogos
de Platão. Essas questões da ética na Antiguidade são uma referência ao estudo
da ética sob um viés histórico, sobretudo considerando que foram apropriadas
pela posteridade e abordaram problemas ainda atuais.
A despeito de
uma tentativa de educar o jovem antigo com base nos modelos de comportamento de
deuses e heróis, apresentados nas composições dos poetas do período arcaico,
como Homero e Hesíodo, os gregos do século V a.C. vivenciaram na figura de
Sócrates – protagonista nos diálogos aporéticos de Platão – um novo rumo no
pensamento sobre a ética: o estudo da ação humana como critério de avaliação
ética e a razão como meio de se estabelecer os paradigmas.
O que está em
jogo na ética socrática dos diálogos é que o indivíduo deve ter controle das ações
para que prevaleçam as ações boas, aquelas baseadas nas ideias. Para ter
controle é preciso fazer valer a parte racional da alma (sobre a parte
apetitiva), única capaz de distinguir verdade e aparência e orientar a ação,
conforme o verdadeiro bem.
Embora haja
dificuldade em se definir o “verdadeiro bem”, por conta da “aparente
multiplicidade de bens”, é o conhecimento da verdade uma das formas perfeitas,
das ideias, que possibilita a apresentação de um modelo ético platônico. Assim,
considerando conhecer o bem como o conhecimento das ações boas, fica evidente a
importância da educação para o conhecimento da verdade orientadora.
No modelo
ético dos diálogos, o ser humano deve ser racional, buscar conhecimento, agir
bem e, assim, viver bem.
Assinar:
Postagens (Atom)