Diz a lenda que em algumas pessoas o porre de Tequila causa
amnésia.
Certo dia, um casal de amantes marcou um encontro regado a
muita, mas muita, Tequila.
Bem, dizem que a arte imita a vida, neste caso, extraordinariamente, sucedeu como na lenda. No dia seguinte, ambos acordaram em suas respectivas
casa, porém sem a menor lembrança do que havia lhes ocorrido na noite anterior.
Em função do esquecimento, repetiram seus encontros por um
sem-número de vezes...
Os detalhes!
Ah... os detalhes desses encontros...
No íntimo de cada um dos amantes, restava uma vaga lembrança: a sensação
intuitiva dos detalhes, dos muitos detalhes...
Mas as circunstâncias da vida são tantas... e, entre
encontros e desencontros, perderam-se pelo mundo.
Enfim, os amantes, pseudo casal, tomaram em suas vidas rumos
diferentes...
Um foi para o norte o outro para o sul – coisas que
acontecem na vida das pessoas.
Apesar de passado muito tempo, sentiam inusitadamente uma
imensa vontade de se embriagar; sentiam uma falta, um vazio, sabe-se lá de
que...
O fato é que os porres de tequila, agora sós, apenas lhes causavam
substanciosas ressacas, tremendas dores de cabeça. No fundo, permanecia aquela
mesma sensação de vazio, de ausência.
Depois de muito ponderarem a respeito de suas profundas angustias,
sobre a terrível sensação de ausência que lhes oprimia, resolveram novamente se
encontrar...
Então, aquele que havia ido para o norte, retornou. Assim como
o amante que havia ido para o sul.
O reencontro ocorreu no mesmo horário e no mesmo local em
que durante anos se encontravam.
Finalmente voltaram a se encontrar!
Ambos confidenciaram sobre suas profundas angustias; as lancinantes
sensações de ausência que sentiram.
Discutiram sobre a hipótese da amnésia provocada pelos
porres de tequila e admitiram sua possível factibilidade.
Puseram-se então a recapitular em suas memórias cada passo de seus encontros
passados. Cada gesto foi, meticulosamente, retomado pelas parcas memórias de
cada um.
De repente, como um grande quebra cabeças, tudo foi se
desvelando diante de suas consciências.
O que em princípio parecia uma enorme colcha de retalhos foi
se revelando um belo tecido, rico de detalhes. Cada redescoberta era motivo de
grande alegria para ambos.
Em dado momento, todo o ritual dos encontros passados havia
sido refeito.
Momento que lhes ocorreu a grande iluminação...
Como de súbito, toda aquela sensação de angustia, de vazio, havia sido finalmente
preenchida pelos vários fragmentos de uma memória compartilhada e que lhes reconstruiria
todo o sentido, que lhes refaria todas os brancos das longas noites de
embriagues alone.
Faltava em suas tequilas...
O sal e o limão.
By: Jairo de Sousa Melo