quinta-feira, 24 de junho de 2010

Um dia curto demais

As vezes o dia limita a vida.
Não no sentido das vinte e quatro horas serem pouco tempo.
Não me refiro meramente ao tempo; embora, reconheça que o tempo tambem metrifica o dia, e, consequentemente a vida.
Mas estou pensando na energia que muitas vezes nos toma de assalto, faz a vida transbordar ser muito mais, nos dá aquele sensão de totalidade, de unidade, de compartilhamento...
É neste sentido, é a este sentido que me refiro...
Como naqueles dias que acordamos e temos a sensação de saber exatamente como está o mar...
Como estão as ondas, o vento...

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Sei lá



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Caro senhor Ang Lee
Seu filme me fez de novo sentir como é pesado viver.
(Há coisas que nos fazem sentir realmente como é pesado viver.)
Na verdade nem eu sei se isso é um elogio. Vivemos a vida inteira fugindo dessa sensação. Não saberia dizer se é verdadeiro que “às vezes” buscamos senti-la. “Às vezes” a vida é uma dor que viver alivia. Quando sinto todo peso da minha vida, quando escuto o silêncio que é, quando me recordo que, de fato, estou só, procuro o refugio das minhas amizades.
Escrever é um refúgio, caminhar é um refúgio, dirigir é um refúgio, criar é um refúgio, encontrar...
Refúgio é fugir, fugimos de nossa condição, porque viver é intransitivo.
A vida tem sido pra mim como uma experiência mística, uma realização solitária, plena e absoluta. A sensação de plenitude é ao mesmo tempo causa de um estranho vazio, da percepção do vazio que nos cerca, do vazio que nos preenche. A descoberta do eu solitário é um encontro que procuramos evitar. Buscamos amor, para não sentir a vida. Buscamos amizade para compartilhar a dor. Buscamos a companhia de alguém que nos ouça para não ouvirmos o silêncio.
Mas nos dias, nas noites que mergulhamos profundamente dentro de nós mesmos, re-encontramos nossa dura e verdadeira natureza, a solidão.
Por outro lado, é interessante notar que em “nosso” discurso nunca estamos inteiramente sós.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Nunca lutei tanto para salvar a vida de uma pessoa, nunca me senti tão impotente

Combate perdido; mas guerra continua

Já ouviu falar de um homem que resistiu a uma seqüência de 5 enfartos?
Eu já; foi o que aconteceu com meu padastro (pai)
Resistiu o quanto pode, nós lá pedindo a ele que resistisse, não sabíamos, estávamos só prolongando seu sofrimento, já que não viria socorro de lugar algum
Muitos morreram nestas mesmas condições aqui em Mongaguá, e, se nada for feito muitos ainda morrerão...
Não vamos calar
Não vamos parar
Não podemos
Não temos o direito, ainda há seres humanos correndo riscos aqui nos prontos socorros

domingo, 28 de março de 2010

A saúde pede socorro em Mongaguá 2010



Durante muito tempo em minha vida fui um cético, não acreditava em Deus, ou, se acreditava, guardava com essa crença uma relação utilitarista.
Nesta semana tive minha pouca fé testada, meu pai precisou ser socorrido com um enfarto ao pronto socorro central de minha cidade. Começamos aí uma longa caminhada rumo ao conhecimento dos mistérios de Deus, ou do abandono e descaso com a saúde em meu município, uma verdadeira VIA CRUCIS.
Desde o início foi SÓ mau atendimento e descaso por parte dos médicos. Em alguns momentos cheguei mesmo a duvidar da qualificação técnica de alguns deles, haja vista, tamanha incompetência da parte de alguns deles.
No primeiro atendimento a médica sequer se levantou de sua cadeira para auscultar o coração de meu pai, apesar de sua reclamação de dor no peito, somente com muita insistência de nossa parte a mesma autorizou que fosse feito um eletro cardiograma. Eu, apesar de ser completamente leigo, notei algo de estranho no eletro; porém, como não tenho nenhuma formação para afirmar algo sobre o exame, procurei entregar à doutora para que ela fizesse a leitura do mesmo, uma leitura supostamente técnica. Ao receber o eletro em suas mãos a “Drª” olhou com um ar de superioridade o pequeno pedaço de papel e afirmou categoricamente não haver nada de errado, que bastava que ele fosse medicado e dispensado (noutras palaras, tomasse um soro), afinal tratava-se de um leve mal estar.
Durante a semana, meu pai, mais uma vez com dores no peito, foi a um ambulatório local, Vila Operaria, e lá foi tratado com o mesmo descaso pelo médico “Dr House” (força de expressão, embora seja bem provável que ele de fato se sentisse como tal), que, provavelmente tirou seu diploma num terreiro de macumba, já que sem sequer tocar no paciente que reclamava de dor no peito diagnosticou uma “verminose” e solicitou um exame de fezes. Repito mais uma vez, ele sequer considerou os reclamos do paciente se queixava de dor no peito. Pergunto-me, que tipo de procedimento clínico ele teria usado para concluir tal absurdo? E, ainda num lance de absurda ARROGANCIA e prepotência, quando solicitado por minha mãe uma guia, um encaminhamento, para um cardiologista, respondeu QUE O MÉDICO ALI ERA ELE E QUE ELA, UMA IGNORANTE, NADA SABIA PARA FAZER TAL TIPO DE SOLICITAÇÃO.
E ainda não acabou, nesta ultima sexta-feira 26 de março, meu pai teve que ser mais uma vez socorrido ao “famigerado” pronto socorro central de Mongaguá, onde sequer existe uma Unidade de Tratamento Intensivo, a famosa UTI, imaginem um pronto socorro que não possui um pronto socorro.
Pois foi nesse ambiente de preparação para as passagens, de preparação para a morte, que meu pai lutou uma das batalhas que, se não foi (pois ainda me resta uma centelha de fé em sua recuperação) será uma das mais difíceis dias de toda sua vida.
24 horas de sofrimento profundo. Até então, em minha vida, nunca tinha o visto tão indefeso, tão fragilizado, ele parecia pressentir a morte rondando seu leito, chegou a declarar em algum momento para minha esposa que não retornaria para casa.
Lembram-se daquele eletrocardiograma feito por meu pai no sábado dia 21/03/2010, pois é, ele foi levado na última sexta feira a outro médico, de uma clinica particular, que ao ter em mão o exame identificou de imediato um caso de enfarto, ou seja, meu pai estava enfartado desde o dia 21, o mesmo eletro foi levado ao hospital de Itanhaém, neste domingo dia 28/03/2010, e o médico mais uma vez foi categórico em afirmar que ele já estava enfartado desde o dia em que havia sido realizado o eletrocardiograma. Detalhe, o mesmo que a médica do pronto-socorro havia afirmado estar normal.
A posição fetal; é interessante que esta posição revele a verdadeira condição do homem, a de absoluta fragilidade, de absoluto desamparo diante do desconhecido que é a morte ou a vida. Revela também, em algumas ocasiões o nível de sofrimento a que uma pessoa esta submetida. Pois foi assim que vi meu pai, um baiano forte e lutador, que até esse momento era ainda meu “padastro”.
Foi ali que reconheci meu pai, e, por incrível que pareça foi também passando por esta situação que ele me reconheceu filho.
Como diz o ditado, antes tarde do que nunca.
Que nos resta agora? Resta-nos esperar.
Ah, também nos resta esperar que mais nenhum ser humano caia nas mãos do sistema de saúde de Mongaguá assim como ele está.
Está sucateado, está abandonado, foi esquecido pelo poder público, foi esquecido pelo prefeito (dizem por ai que ele ainda não assumiu seu mandato), certamente nenhum de seus entes queridos depende desse sistema.
Foi esquecido pelos vereadores, que esqueceram sua função pública de cobrar e vigiar o executivo, de representar a sociedade, a população, sabe-se lá se estão vendidos, se foram corrompidos, talvez não pelo dinheiro, mas quem sabe pelo poder.

QUANTO A MEU PAI, ESPERAMOS EM DEUS

JÁ A SAÚDE EM MOGAGUÁ ESTA COMO ELE, NA UTI

Jairo de Sousa Melo