sábado, 10 de abril de 2021

Amanhã 2019

Amanhã, quando amanhecer bem-tarde,
As crianças nascerão velhas
E caminharão pelas ruas em procissão

A frente um cortejo funebre...
Até de olhos fechados poderemos ver, acordar
E, enfim, o mundo como de fato é
O instante é, foi, jaz...
O hoje, um preterito pesado
Assassino a espreita do amanhã
E vamos quase ter, aprender, sobreviver

Quase...
Em meio a moribundos imundos
Aqueles que rejeitam a vida e cultuam a morte
Não haverá mais diálogo possível
Ainda que o silêncio, impossível
Jaz... o tempo, os amigos da inimizade
Dominam, os tolerantes com a intolerância
Uivam

Ode ao ódio, ode ao ódio
Cães! Silenciam pássaros e grilos
Amanhã, até onde a vista alcança só...; impossível avistar os que virão
Não será nem-fim, nem-começo

Só, sonho ruim, um hurro abafado, peito calado.

Sob uma luz amarela e turva,

Um mau presságio,

Na velha prateleira empoeirada nem-memória,

Sob um punhado de pó o medo
Uma sombra,
E a Terra erma, arrasada...