quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Discurso de formatura da turma de 2014 - SESI 087

Boa tarde (noite) a todos!
Senhores pais, mães, alunos, colegas de trabalho, inspetores, equipe da limpeza, da alimentação, equipe gestora, senhor administrador.
Pediram-me...
Aliás, corrigindo, foi-me recomendado que fosse econômico no discurso. – Embora eu seja um outsider vou procurar manter o protocolo e seguir a recomendação, afinal, dizem que é bom ser prudente em tempos de crise. (rs)
Bem, neste sentido, gostaria primeiramente de dizer da minha satisfação. Gostaria de dizer que me sinto extremamente honrado pelo convite para ser paraninfo dessa turma. No fundo sou uma pessoa muito simples e, como todo professor, qualquer pequeno gesto de reconhecimento é suficiente para me emocionar e me fazer sentir orgulho pelo meu trabalho.
Professores são pessoas simples!
Agradeço aos alunos do 3º A, por terem me concedido essa honra. Obrigado!
Gostaria de começar meu breve discurso lembrando duas provocações nietzcheneanas sobre o que o verdadeiro filósofo espera de seus discípulos:
“O homem do conhecimento não precisa somente amar seus inimigos, precisa também odiar seus amigos.”
Ou seja, é preciso seguir de perto o que dizem aqueles com quem não concordamos, mas sobre tudo, é preciso exercitar a discordância com nossos amigos para que não sejamos doutrinados pela força da amizade, nem cúmplices do erro. Isto porque, com relativa facilidade denunciamos os erros em nossos inimigos; porém, é preciso ter muito caráter para denunciar os erros em nossos amigos – caráter, eis uma palavra cara em nossos dias!
“Paga-se mal a um mestre, quando se continua sempre aluno.”
Por isso recomendo, tomem as rédeas de suas vidas e formação, não esperem a partir de agora que seus país ou professores lhes digam o que vocês “devem” fazer.
Isto dito...
Outro dia numa aula sobre noções de economia política na sala do 3ºB, fui concitado pelos meus alunos a fazer uma aula especifica de introdução à economia – lamentavelmente, em função da correria do fim do ano, não tivemos esta aula.
Hoje então farei a leitura desse pequeno livro sobre o capital no século XXI... Estou brincando....(embora tenha trazido comigo este exemplar no meu novo livro de cabeceira O Capital no século XXI, do Piketty – recomendo a leitura!!).

Bom, na verdade gostaria de perguntar o que afinal a sociedade espera de vocês formandos?
Sucesso!?...
O que se entende com a palavra sucesso?...
Eu não gosto da palavra sucesso, sobretudo, porque o antônimo, o contrário da palavra sucesso é fracasso; mas parece que esta palavra está na moda hoje em dia...
Os “gurus” da auto ajuda gostam da palavra sucesso.
Os “gurus” do business gostam da palavra sucesso.
Mas a maneira como esta palavra é interpretada pelo senso comum nos leva a crer que muitas das pessoas que admiramos, respeitamos e veneramos durante muito tempo, não são ou foram pessoas de sucesso.
(Os professores, por exemplo, não são considerados modelos de sucesso em nossa sociedade, não são exemplos a serem seguidos).
Mas...
Vejamos o caso de Sócrates.
Um sujeito que fez da sua vida uma incansável busca pelo conhecimento, pela verdade e pela justiça, dava aulas nas ruas e praças públicas a quem quer que desejasse aprender, não ganhava nenhum centavo por isso. Mesmo assim arrumou muitos inimigos, foi perseguido, preso e condenado a morte por seus compatriotas.
Fracasso???
Vejamos o caso de Jesus.
Um sujeito que até onde se sabe não possuía bens, tinha uma profissão humilde, era carpinteiro, segundo dizem; dividia o pouco que tinha com os outros; e dizia que amor era a coisa mais importante do mundo; foi perseguido por seus compatriotas e entregue aos romanos para ser morto.
Fracasso???
Vejamos o caso de Gandhi.
Um sujeito que andava com as roupas de algodão que ele mesmo fiava, quase não possuía bens, e se os possuía não os ostentava, pregava e praticava a não violência, mesmo assim foi assassinado por um compatriota seu.
Fracasso???
Se as pessoas aqui presentes não conhecessem a historia destes grandes homens certamente tenderiam a acreditar, conforme a moda, que estas são historias de fracasso.
Que dizer então da família?
De uma mãe, de um pai que possui uma profissão humilde, como a de operário da indústria, ganha pouco e o pouco que ganha investe não em si, não em bens e ostentação, mas na formação dos filhos; e, somente com muito esforço e sacrifício consegue levar essa empreitada adiante.
Fracasso???
Eu tendo a crer que se um desses gurus dos negócios observasse isoladamente a vida de alguns desses pais, dessas mães certamente diriam que eles também não obtiveram sucesso em suas vidas pessoais.
Vejamos agora alguns dos casos de sucesso festejados e enaltecidos pelos ditos gurus dos negócios:
Em meados do século XIX, Irineu Evagenlista de Sousa, também conhecido como o Barão de Mauá, levantou uma relativa fortuna “contrabandeando” escravos negros da África para a América Latina. Muitos destas pessoas eram sequestradas e vendidas como escravos no “mercado” ilegal, uma vez que o trafico negreiro já havia sido proibido pela coroa com a Lei Eusébio de Queirós, de 1850.
Alguns estudantes de administração chamaram este episódio do mundo dos negócios de um “case de sucesso.”
Em 1997, o economista Armínio fraga, comandou uma ataque especulativo contra a economia da Tailândia que rendeu a ele e ao seu sócio George Soros lucros da ordem de mais de 2 bilhões. Este golpe na frágil economia da Tailândia quase levou o país a falência quebrando centenas de empresas e ao desemprego milhares de pessoas.
Alguns estudantes de economia chamam este episodio de um “case de sucesso.” 
Eis porque não gosto da palavra da moda “sucesso”.
Daí que prefiro a palavra realização.
Um homem que realiza coisas tem do que se orgulhar.
Neste sentido, lutar incansavelmente pela verdade e pela justiça ainda que com isso não se obtenha dinheiro e bens,
é sim realizar coisas!
Lutar pela justiça e pelo amor, ainda que com isso você seja traído e injustiçado,
é sim realizar coisas!
Lutar pela liberdade e pela paz, ainda que com isso você seja preso e maltratado,
é sim realizar coisas!
Do mesmo modo, dar uma formação digna aos seus filhos, ainda que para isso se tenha que sacrificar nosso tempo, e tantas outras coisas, é sim realizar coisas!
É desta maneira meus alunos, que respondo o que se espera de vocês que hoje encerram uma etapa importante de suas formações.
Espero que tenha uma vida plena de realizações, uma vida que traga orgulho não só para vocês mesmos; mas que traga orgulho a todos que os cercam, principalmente às suas famílias, uma vez que não podemos esperar muito reconhecimento dos outros, como pudemos observar.
Lembrando que nenhum daqueles homens honrados aos quais me referi tinham a pretensão de serem lembrados por toda a eternidade, apenas buscaram ter uma vida digna e honrada e assim realizaram suas vidas da melhor maneira possível.
Portanto, finalizo recomendado e desejando a vocês que Realizem uma boa vida!

Meus parabéns a todos.