domingo, 12 de março de 2017

O MENINO, O VELHO E A BICICLETA.

Todos os dias quando era criança ele pegava carona na bicicleta daquele velho. 
Sem dúvidas era muito gostoso vê-lo sentir o vento em seus cabelos. 
É incrível, quando somos crianças como coisas aparentemente banais, aparentemente simples, aparentemente singelas, nos deixavam sempre muitíssimo felizes (pegar caronas de bicicleta).
_ Suponho que sonhava ele próprio percorrendo as ruas do bairro com sua pequena bicicleta.
_ Desconfio que imaginava todo o trajeto em sua pequena cabeça, creio que já fosse capaz de recriar em sua mente todo o percurso que costumeiramente faziam.
Enquanto seus sonhos de meninice não se realizavam, guardava e aguardava com carinho os passeios pelo bairro.
Quando se é criança todos os dias são mais belos, mais coloridos, são multicoloridos os dias...
E, a repetição de um trajeto que para muitos poderia parecer enfadonho, para seus olhos curiosos, “heraclitianos” olhos de criança, todos os dias eram um novo dia, um novo mundo.

Certo dia então, como de costume, sentou-se a beira do portão para aguardar ansiosamente a chegada do velho....
Sempre ansioso, sempre receoso...
Para descontrair apanhava pequenos seixos pelo chão e atirava as pequenas pedras na rua, nas coisas que via próximo como se contasse o tempo...
Mas, neste dia sua espera se prolongou, se estendeu demais...
O velho não apareceu, 
Por dias a fio ele esperou
Mas o velho não mais passou.
Em seu pequeno semblante era possível perceber um pesar profundo.
Parecia claro que pela primeira vez em sua breve existência um sentimento de vazio absurdo, abismal lhe tomava peito. 
_ Um terrível vazio no peito!
_ Pude notar que por noites a fio sonhou com seus divertidos passeios. Durante dias imaginou, chegou inclusive a criar mapas de seus costumeiros trajetos, - é bem provável que tenha sonhado/pensado com novos planos para seus passeios...
Passado algum tempo, os dias, sentava-se em frente ao portão e aguardava, agora; no entanto, na certeza da incerteza.
Até que tomou coragem, levantou-se, não olhou para traz, nem pediu licença, sequer titubeou no primeiro passo, partiu...
Pois-se a caminhar, e refez a pé todo aquele percurso que faziam juntos de bicicleta. Olhou os mesmos lugares, as mesmas pessoas da rotina de seus passeios passados.
Numa esquina, a distancia, avistou numa banca dois senhores que os viam e os cumprimentavam todos os dias. Reparou que um dos senhores olhou para o relógio e olhou para traz, como quem aguardasse alguém que ainda viria a passar. Parou por um momento, esperou, olhou... Nada!
No caminho de volta nem lhe pareceu nem apareceu nada de novo. Teria seu olhar empobrecido? Sua vista ficado dura como o asfalto!?
Ao chegar em casa olhou fixamente em meus olhos com uma profundidade inquietante - angustiante, – parecia meditar consigo –, que estaria ele pensando? Deveria eu ainda lhe dizer algo sobre o velho? Que não viria hoje e nem volverá jamais? É tempo de falar das "durezas da vida"?
Quando ele de súbito exclamou/suspirou: 
"Ah!!! Mamãe, então é assim!? A gente vem para este mundo olha, e um dia simplesmente desaparece!?"

3 comentários:

  1. Poético!
    Alegre....Triste....
    Mas lindo!
    Adorei!
    Obrigada, amigo!

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  2. Poético!
    Alegre....Triste....
    Mas lindo!
    Adorei!
    Obrigada, amigo!

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    Respostas
    1. Grato minha querida.
      Pretendo publicar quinzenalmente meus textos - pelo menos este semestre a inspiração será os dramas da existência...

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